quarta-feira, 17 de julho de 2013

BAHIA: Secretário afirma que 80% dos crimes no Estado são orientados por celular de dentro dos presídios

A rigor, um lugar de horários e regras para quase tudo: banho de sol, alimentação  e visitas. Mas na Unidade Especial Disciplinar (UED), onde ficam réus considerados de alta periculosidade, ordens também são dadas para quem está do lado de fora.

De dentro do Complexo Penitenciário da Mata Escura, o traficante Val Bandeira, um dos líderes da facção Comando da Paz, uma das maiores da Bahia, comandou o duplo assassinato de traficantes do Amazonas, na Praça da Piedade, em maio deste ano. Para contactar os executores, Val Bandeira fez apenas ligações. “Estamos estudando isso. Quase 80% dos crimes hoje que são cometidos na nossa cidade vêm de orientação de dentro do sistema prisional. Temos que dar um basta nisso, esse é um problema que não é só da Bahia, é um problema nacional”, afirmou o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa.

A declaração do secretário foi feita durante coletiva de apresentação dos três homens responsáveis pela execução na Piedade, quando Barbosa apresentou outro percentual: 70% dos homicídios ocorridos na Bahia têm ligação direta com o narcotráfico.

Ontem, procurado para comentar o assunto, o secretário voltou atrás. Por meio da assessoria, declarou que o número não era exato, e sim uma projeção nacional, ainda não confirmada por estudo.

O diretor de Segurança Prisional da Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap), major Julio César Ferreira, disse não ter tido acesso à declaração de Barbosa, mas afirmou que o tráfico de drogas gera uma grande de dificuldade de combate por conta da territorialidade. “As pessoas estabelecem nas comunidades o seu ponto comercial, mas é claro que isso chega ao sistema prisional”, disse.

O major minimizou o uso do celular dentro do sistema prisional. “Ele (o preso) vai ter contato com advogado, com as visitas, esposa, encontro íntimo. Enfim, ele vai continuar tendo contato e essa articulação não vai ser dada só por celular”.
Bloqueios
No país, alguns estados já fazem o uso de bloqueadores de sinal de celular no perímetro das unidades prisionais. É o caso do Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará. No último, uma determinação da Justiça obrigou todas as unidades prisionais do estado a instalarem os bloqueadores de sinal, cujo prazo venceu no mês passado.

Minas Gerais também promete instalar os bloqueadores em dois presídios, como uma medida adotada pela Segurança Pública. Santa Catarina tenta o mesmo desde o ano passado.
Mas existe uma discussão sobre quem deveria pagar pelo bloqueio — o Estado ou as próprias operadores de telefonia celular. Sites especializados apontam que a tecnologia pode custar entre R$ 150 mil e R$ 230 mil por presídio. Na Bahia, o major Julio César disse que o custo depende do tamanho da unidade, mas não especificou valores.