quinta-feira, 18 de julho de 2013

Treinamento policial e economia de vidas

treinamento


Há economias feitas pelo Estado, em relação a gastos na Saúde e na Educação, que implicam em grandes prejuízos a longo prazo, em troca de sobras para campanhas publicitárias. Trata-se de um artifício terrível, mas que se infiltra silenciosamente nas diversas esferas, causando danos severos em áreas críticas da sociedade. Na área da Segurança também pode acontecer uma poupança fatal, que reduz despesas à custa da destruição de vidas: a máxima restrição ao gasto com munição das Polícias.

Cartuchos podem nem ser tão caros para o Governo, mas esse gasto não parece ser atrativo a alguns gestores. Talvez, na mente desses, pode parecer que o Poder Público está preparando seus servidores para matar, quando na verdade é justamente o oposto – quanto mais disparos o policial fizer em treinamento, mais vidas serão salvas, sobretudo de inocentes.

Por certo existem policiais utilizando em serviço armas novas, com as quais jamais fizeram um único disparo. É bem provável que, fazendo uma pesquisa, seja detectado que inúmeros agentes de segurança do campo operacional, que trabalham nas ruas todos os dias para enfrentar o crime, estejam há dois, cinco, dez ou mais anos, sem ter praticado disparos em instrução. Qual a consequência dessa realidade?

A grande possibilidade de inocentes serem atingidos. Por perder a familiaridade com o ato de atirar, o policial se afasta da noção exata de recuo, desvio, alcance, entre outros aspectos que devem ser analisados pelo subconsciente na fração de segundo do acionamento do gatilho. Bem intencionado, atira no que vê, mas acerta no que não vê.

Aí se desenha a grande tragédia, uma vida inocente perdida e um trabalhador transtornado, preso, com remorso e um peso na consciência que o acompanhará por toda existência. Sua família vai sofrer ao extremo, de privações financeiras com os custos de processo ao drama social de passar por essa situação. O alcance de impacto do disparo é multiplicado por todos que viviam em torno de quem foi atingido, o qual, ainda que sobreviva, vai carregar também marcas que não se apagam. Mas quem tem a verdadeira culpa nessa história?

É definitivamente inadmissível que o investimento em capacitação seja visto meramente como um gasto que pode ser cortado em prol de outras despesas talvez bem menos essenciais, mas que trazem retorno eleitoral, por exemplo. Cada real poupado em cartuchos que deixam de ser utilizados em treinamento é uma probabilidade maior de que um profissional tenha sua carreira destruída e algum inocente tenha a vida interrompida. Talvez essa situação ocorra em algum lugar e a velocidade das notícias de mortes indesejadas não permita a todos analisar pelo ponto de vista aqui exposto.