sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Ex-mulher de preso se ajoelha e pede perdão à família de PM do Bope morto na Baixada


A ex-mulher do empresário da construção civil Aníbal João Valente Junior, de 43 anos, preso acusado pelo assassinato do cabo do Batalhão de Operações Especiais Sidnei Dias Simão, se ajoelhou e tentou pedir perdão à família do policial. Ela compareceu nesta sexta-feira na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense e disse ao irmão da vítima que “só pensou no policial quando soube do crime”. Na ocasião, Sidnei, que fazia a segurança do coordenador do grupo AfroReggae, José Júnior, estava de folga .
— Assim que soube do fato, pensei no seu irmão, nem no meu ex-marido eu pensei. Ele não é marginal, ele é trabalhador, pai de família e ele não fugiu — disse a mulher, que não quis se identificar.
O irmão do PM aceitou o pedido de desculpas e disse que só o fazia “porque a família é evangélica”. Mas afirmou à mulher que Aníbal tem que pagar pelo que fez.

— Você tem o meu perdão. Mas isso não pode ficar impune. Meu irmão tinha orgulho de ser policial e de ser do Bope. O sofrimento é enorme. Não como nem durmo há cinco dias.



Perseguição a motorista
Sidnei faria a segurança do coordenador do AfroReggae

O crime aconteceu no dia 2 deste mês, um domingo. O cabo tentava impedir a fuga de um motorista após um acidente no Centro de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, que deixou um idoso ferido. Alertado pelos pedestres que o motorista, Lucas de Souza Cândido, de 19 anos, estava escapando, Sidnei correu atrás do rapaz até um posto de gasolina.

Segundo a polícia, Anibal viu uma pessoa armada abordando o jovem, que por coincidência é amigo de seu filho. Ele foi atrás e chegou a atirar no chão. Quando se aproximou, Sidnei se identificou como policial e colocou a arma no chão. Mas Lucas e Peterson Pereira de Souza, de 36 anos - que acompanhava o empresário -, o incentivaram a atirar.

- Lucas e Peterson disseram: "Mata, mata". Lucas chegou a negar que Sidnei era policial e afirmou que ele estava tentando roubá-lo - contou o delegado Pedro Medina.
À polícia, Anibal disse que tem hábito de andar armado porque efetua grande pagamentos, mas ainda não foi apresentado porte de arma. Medina disse que Sidnei foi morto com quatro tiros. A armas de Anibal, um revólver 38, e uma PT .40, de Sidnei, foram apreendidas.

Peterson Pereira teria tentado se livrar dos documentos do policial do Bope:
‑ Ele pegou a carteira, provavelmente tirou o dinheiro e tentou se livrar, jogando atrás do posto - disse Medina, afirmando que Sidnei foi morto com tiros de sua arma e da arma de Anibal.
Anibal responderá pelo crime de homicídio qualificado, em relação a Sidnei, e homicídio tentado, em relação ao funcionário da padaria. Lucas e Peterson, que estão sendo procurados, por participação no homicídio. Anibal e Peterson responderão, ainda, por furto qualificado
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José Júnior divulga carta
O coordenador do AfroReggae divulgou uma carta lamentando a morte em que diz que “nunca antes chorou por um policial do Bope”. Leia a íntegra abaixo:
“Choro por um cara do Bope
Já chorei pela perda de muitas pessoas: parentes, amigos, artistas, ídolos, pessoas que nunca vi, mas nunca antes chorei por um policial do Bope.
Descobri que as lágrimas e a dor são as mesmas. O vácuo que fica é igual ao de qualquer pessoa que parte e deixa saudades. Engraçado que as pessoas parecem achar normal um cara, por se vestir de preto, ser morto. É como se fosse normal elas terem uma certa insensibilidade. Talvez eu também achasse, há dez anos, mas, nesses últimos cinco dias, a nossa instituição, nossa equipe de segurança e a Core estamos muito entristecidos. Devo ressaltar que todos, inclusive aqueles que foram da "vida errada", estão arrasados com a perda do nosso amigo e irmão.
Simão, ou melhor, Neném - como a sua mãe gosta de chamá-lo - era um excepcional filho/irmão/pai/noivo/amigo/policial e o último item era segurança do "José Junior". Não vamos dar valor a esse item, porque ele era muito mais do que meu segurança.
As imagens que eu vi, e que provavelmente serão divulgadas, são de uma covardia e maldade absurdas. O que fizeram ao Cabo Sidnei Dias Simão irá chocar aqueles que amam o próximo e respeitam os Direitos Humanos. Nosso amigo rastejou pra viver. Ele morreu na sua hora de folga, para ajudar um idoso. Simão, para mim, é um herói! Um cara inesquecível que vou carregar para o resto da minha vida como Vladmir, Bigu, Evandro, Rafael e tantos outros.
Quem diria que um dia “o cara" do AfroReggae iria chorar por um caveira. Pois é, esse dia chegou há cinco dias, e desde então ele não para de chorar.
As crianças mais novas perguntaram por você e eu disse que agora você estava cuidando da gente lá do céu.
Do amigo de hoje e sempre,
José Junior.”