Nos
últimos anos temos assistido a uma verdadeira ascensão de crimes violentos
causados por motivos banais ou por questões que bem poderiam ter sido
solucionadas de forma não violenta; são brigas de escola, namoros acabados,
desavença entre vizinhos, ciúmes entre irmãos, ciúmes de filhos, acidentes de
trânsito, relações sexuais prejudiciais, etc. Que acabam em homicídios muitas
vezes com ares de execução somente vistos em filmes hollywoodianos, crimes que
envergonham e ao mesmo tempo fazem a festa dos mais diversos meios de
comunicação.
TVs,
jornais, rádios, internet, todos aproveitam a ocorrência destes crimes para
aumentar a audiência diária – sem se preocupar inclusive se estes passarão em
meio à programação infantil – aproveitando-se do fato de que as pessoas parecem
ter deixado de se surpreender com a notícia de mais uma chacina, de mais uma
bala perdida ou execução; se o fato for cometido por alguém famoso ou que tenha
potencial para chocar, a história toma ares de novela, com direito a torcida
pelos “mocinhos” e execração pública dos “bandidos”. Com as redes de
telejornais competindo para mostrar qualquer coisa exclusiva: uma confissão
gravada em segredo ou um vídeo que mostre como ocorreu a tortura e a morte.
A verdade
é que a população deixou de se sentir incomodada com notícias sobre violência,
essa se banalizou de tal forma que passou a ser vista como uma história a ser
contada, debatida como um jogo de final de copa e depois esquecida a espera do
próximo escândalo, da próxima vítima, para recomeçar o ciclo. Virou esporte
nacional enviar através de emails ou de aplicativos como o what’s up, fotos da mais nova chacina, do assassinato mais
chocante, de corpos apodrecidos, de métodos de esquartejamento e ocultação de
cadáveres, de violentos acidentes de veículos. Fotos que deveriam estar nos
laudos de um inquérito policial, mas que se espalham com a rapidez que somente
a internet pode proporcionar.
Muito se
pergunta do porquê de nossa sociedade estar assim, terá sido a banalização da
violência que a vem tornando insensível ou será o contrário? Será que em nome
de nossos prazeres, de uma permissividade, de um maior egoísmo, que só nos leva
a enxergar o próprio umbigo, temos nos transformado num povo que vive a vida
sem observar a vida ao redor?
Dizem que
somos um povo hospitaleiro e solidário, capaz de mobilizar inúmeros voluntários
para arrecadar alimentos para vítimas da seca, de enchentes e até de tsunamis
em lugares distantes do globo, mas ao mesmo tempo somos um povo que assiste
impassível ao crescimento da violência, sem que isso nos incomode
verdadeiramente, basta iniciar o intervalo comercial e esquecemos a indignação
momentânea, que só volta quando vemos a chamada do telejornal; aí expomos
nossas opiniões contra “esse absurdo” e rogamos “esse mundo está acabando”,
“onde vamos parar meu Deus!”.
Nessa
hora é que ideias mirabolantes, complicadas e muitas vezes absurdas começam a
pipocar na mídia e na cabeça de muitos ditos especialistas (chega a ser
engraçado ver nos meios de comunicação que qualquer um, menos o profissional
formado em polícia, é especialista em segurança), ideias que geralmente tendem
a criticar o que existe no nosso ordenamento legal, a ausência dos governos, a
decadência da família, o descrédito religioso, etc.
Uma
coisa, porém não é discutida quase nunca. A busca desenfreada por prazeres
absolutos, sem contrariedades, sem limites, sem disciplina, sem valores
fundamentais: A Igreja proíbe a camisinha, mas não fala sobre manutenção da
virgindade, o Estado fala sobre cidadania, mas não toma medidas para educar a
população, ONGs falam em educação, mas esquecem de que a disciplina faz parte
dela. Queremos leis de primeiro mundo, leis e comportamentos de cidadãos
conscientes, mas esquecemos de que comportamento não é determinado por
legislação e que a cultura de um povo é burilada por seu progresso educacional
e não por imposição.
Mas o
artigo tá ficando muito longo... Voltamos a esse assunto depois.
*Francisco Moreira é oficial da
PM, Bacharel (APM), e Especialista em Segurança Pública (UNEB) e também
Especialista em Educação Ambiental (FACE). Coordenador do Centro Integrado de
Comunicações – CICOM.